28 julho 2008

antropologia visual da mulher I

“Tu és a forma ideal
Estátua magistral
Oh! alma perenal
Do meu primeiro amor
Sublime amor...

Tu és de Deus
A soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração
Sepultas um amor...”

(Pixinguinha)

Antropologia visual da mulher é de certa forma uma continuação do trabalho “nua e crua”, que por mencionar as funcionalidades do corpo feminino, me fez constatar a importância de discutir as harmoniosas relações: mulher x imagem e mulher x consumo. Fiz um estudo, ainda que superficial, sobre a teoria funcionalista da estética para complementar o propósito da conversa, já que a estética está diretamente ligada à imagem e ao consumo (além do prazer, é claro).

Bem, a teoria funcionalista da estética é uma teoria que considera uma coisa bela quando essa coisa é feita para funcionar bem e realizar exatamente o trabalho que lhe cabe executar, assim, será considerada bela. Infelizmente é ambígua e pode ser interpretada em vários sentidos. Durante o século XVIII, o termo beleza estava estreitamente ligado à apreciação intelectual das leis da natureza ou à apreciação das adaptações teleológicas (sinais da intenção divina) do mundo orgânico. A arte não era criada para ser admirada por sua estética. Foi a partir deste século que surgiu a concepção de belas-artes e a separação entre o artista e o trabalhador.

Louis Sullivan afirmava que “a forma acompanha a função”. Essa frase influenciou os artistas do século XX. Descrever os desenhos utilitários de móveis e equipamentos domésticos; firmava a arquitetura e o desenho industrial ao fazer uma coisa funcional que se adaptasse ao seu propósito, assegurando que ela teria qualidade estética, seria bela para os olhos e os sentidos. Essas eram as idéias de funcionalismo.

Então, percebe-se que algo era produzido de forma artística para ser utilizado, para que funcionasse, e esse algo era considerado belo por ter uma função. Não havia o julgamento da "arte pela arte", a simples admiração, contemplação ou apreciação da beleza. A "beleza pela beleza" é uma característica já enraizada na sociedade contemporânea, que certamente conduzirá os parâmetros do que deve ser reproduzido como visualmente belo futuramente, e já reconstitui o conceito de beleza, seu significado e seu reconhecimento.

(Caro leitor, se gostou deste post fico contentíssima e aconselho a leitura do livro Estética e Teoria da Arte de Harold Osborne, articulista dessa teoria comentada acima - a teoria funcionalista da estética. Faço isso, principalmente, em consideração ao comentário da observadora visitante Manulira.)

6 comentários:

Anônimo disse...

Acho seus textos muito bons, com temas bem atuais e interessantes. Continue assim! E quanto ao ultimo post, aqui vai minha opinião:
Creio eu que não exista essa caracteristica enraizada na sociedade contemporânea, a "beleza pela beleza". O conceito de belo por si só, deslocado de uma época, fora de um contexto socio-cultural, é vazio.
Acredito num conceito de beleza-mutavel, que dialoga com o meio cultural e a época em que se encontra, e mesmo quando ligado a uma imagem universal única, não deixa de ter uma origem e também não é capaz de ignorar as muitas nuances de povos diferentes, quando o assunto é a beleza.

raquelholanda disse...

Um leitor interessado, que ótimo!!
Então, vamos lá... mantenho a idéia da "beleza pela beleza" enraizada na sociedade contemporânea, no sentido de ser um tema que está embutido na mente das pessoas como “metas a atingir”, mas não quero dizer que é uma beleza vã. Acredito que esta preocupação com o belo em si mesmo não está destituída de uma época ou fora de um contexto sócio-cultural (aproveitando suas palavras), ao contrário, ela faz parte da vida da sociedade, de maneira tal, que se torna praticamente impossível conhecer alguém satisfeito consigo plenamente. Quem (“se pudesse e o dinheiro desse”) não faria uma correçãozinha aqui e ali?
Olha, adorei o conceito de “beleza-mutável”. E sim, os conceitos de beleza se adaptam às diferentes culturas, no entanto, de uma maneira geral, existe em todas elas uma preocupação “preocupante”, que em nome da beleza cometem exageros, na minha opinião.

Obrigada por participar comigo dessa discussão.

th. disse...

"Antropologia visual da mulher é de certa forma uma continuação do trabalho 'nua e crua' (...)"

Haha, leitor atrasado é osso.

Quanto a discussão, sinto que estamos a levantar as mesmas bandeiras apesar de as palavras fingirem que não. Sim, faço o mesmo, acredito com toda minha força na canhota no conceito de "beleza pela beleza", "arte pela arte". Por motivos transcedento-musicais. Por motivos poético-cotidianos. Por motivos mais que naturais. É-me um fenômeno recente, admito. Mas, puxa, isso é conversa longa demais para um comentário só...

Leitor interessado, você acredita no amor?

E você, raquel?

raquelholanda disse...

não só acredito como percebo o amor em tudo que vejo.

Manu SA disse...

Harold Osborne ficaria contente se você lhe creditasse as partes do texto postado por você, cuja autoria é dele. Pertinentes a obra “Estética e Teoria da Arte” (pág 43 - Teorias Funcionais da Beleza).

Citações embasam idéias e promovem pensamentos, plágios atestam incapacidade cognitiva e falta de ética.

raquelholanda disse...

Ok, obrigada pela dica! Terei mais cuidado numa próxima vez.Entretanto, gostaria de fazer uma ressalva: ao utilizar a “teoria funcionalista da estética” nesta postagem, sabia que tinha de dar os devidos créditos, mas confiei que bastaria quando disse: “fiz um estudo, ainda que superficial, sobre a teoria funcionalista da estética para complementar o propósito da conversa...”, e ainda quando complementei ao final: “essas eram as idéias de funcionalismo”. Pensei estar óbvio ser um “estudo” sobre a tal “teoria” mencionada, ainda mais por ter destacado toda a expressão com o recurso da fonte em itálico.
Inocência minha.
Pois, que fique claro: sobre a “teoria funcionalista da estética” são informações colhidas em um processo de estudo no qual optei por não mencionar os teóricos.
Contudo, entendo se não foi suficiente e acato sua restrição. Corrijo.