28 setembro 2008

crônica de domingo: unha encravada

Domingo à tarde. Estava passando do meu quarto para o quarto de minha mãe, quando vi meu irmão e sua namorada na sala de estar, namorando. Não foi possível conter, eu ri. Ele estava com sua pose de homem casado, relaxado, assistindo à TV. Ela, por sua vez, estava concentrada em sua função: a de manicure. Isso mesmo. Ela estava “fazendo” as unhas dele.

Ri, porque lembrei que já vi essa cena uma penca de vezes. Quando criança, acompanhava o namoro de uma vizinha mais velha e todo domingo, estava ela lá limpando, lixando, hidratando as “patas” do namorado. Achava até bonito, um gesto carinhoso, mas também constrangedor. É por amor ou um favor?

Desde que comecei a namorar nunca me ocorreu desempenhar esse papel. Nunca me dispus a tal tarefa. Não dou conta, não tenho jeito com as mãos. E não “sinto muito” por isso. Um ex-namorado - de longo tempo - veio certa vez dizer que era de se estranhar eu não cuidar de suas unhas. Era só o que me faltava! E ainda completou dizendo - assim meio menino mau criado - que todas as suas ex-namoradas cumpriam com entusiasmo essa função. Imagine só a cara de pau. Respondi sem calcular: olha aqui, meu filho, sou sua namorada, e ser apenas isso, já me dá muito trabalho, não posso me ocupar com mais essa tal atividade não. Você que se responsabilize por si. Ora!

É curioso. Sempre vi amigas e vizinhas cuidarem das mãos e dos pés dos seus amados. Cortando, lixando, tirando cutículas, unha encravada...
Pergunto: por que as namoradas têm que posar de samaritanas e fazer de conta que gostam de limpar as unhas do namorado? Por que o homem não é capaz de ir ao salão para fazer isso com um(a) profissional? Falta de tempo? Ou isso comprometeria sua reputação? Seria vaidade em excesso ou uma questão de higiene? Por que o homem não se sente ofendido com isso? Não estaria ela desconfiando da sua higiene pessoal? Por que ele recebe esse ato de bom grado?

Pois, revelo: o que era para ser ocasional, um ato de ternura com o namorado considerado especial e que já se tem intimidade suficiente, torna-se hábito, ou obrigação mesmo, e se repete a cada domingo, ou a cada novo namorado. Não se trata de um cuidado todo especial para com o então digníssimo atual namorado especial. Não. Trata-se da boa vontade da namorada em querer agradar o namorado, seja qual for. E quando solteiras, se fossem capazes de admitir essa fraqueza, diriam: eu queria um namorado para ao menos cuidar de suas unhas!

Surpresos? Para elas considero ainda pior, pois depois que os namorados se acostumam, aí, querida super namorada, não se livrará jamais da função de manicure. Acostumou mal. É isso mesmo que você, mulher apaixonada, quer, não é? Afinal, você é a mulher-maravilha, além de dotar todas as características de uma namorada perfeita dando carinho, colo, rumo e amor, você também cuida da higiene pessoal dele, enquanto namorada, e depois da casa, do jardim, do cachorro, e se duvidar até do carro quando se casarem, mas e daí, você está apaixonada, e o que fazemos quando somos flechados pelo cupido?! Uma pessoa apaixonada faz muitas coisas, não? Uma unha encravada é o de menos. O amor cravado no peito é um investimento sem preço.

18 setembro 2008

tum-tum-tum

olha-me deixando-me fascinar por teu encantamento
e numa desesperada loucura
de ter-te,
querer-te sentir
perco-me em pensamentos esparsos
e desejo te gostar sem que o medo me acompanhe
mas
pensar em ti
para quê?
é pensamento em vão,
[é perdido]
pois tu deves estar ocupando
a tua vida e
o teu coração
e eu?
a me prender em enclausurados pensamentos
tão longe de ti
que nem sonhas o quanto eu sonho
o quanto eu quero
quero e sinto
em vão
não
vou chorar
tento
não agüento

14 setembro 2008

terceiros


Sente necessidade de colo e mão firme. Os que sentem teu cheiro percebem-te diferente. Ela sabe. És teimosa. Difícil de convencê-la. Está tão envolvida consigo mesma que se tornou difícil sair de si para se observar. Está sensível às cores, às palavras, às músicas, ao silêncio. Não sabe o porquê da sensibilidade e torna-se mais cautelosa com as escolhas. E recatada. Guardando para si as inquietações do coração, sentindo-as no âmago. Improvisando dia e noite. Sente algo morrer e parece não ter tempo para viver o luto. Muda de comportamento, mas tem a essência imutável. Começa a compreender o momento – será divino ou amaldiçoado? – quando silencia corpo e pensamento. É o danado gosto por gente.
Mas serás divina ou amaldiçoada?
E dá conta de que não se permite chorar. Sua voz interior ordena: sinta o que for cale-se, silencie, observe.

03 setembro 2008

sem título

tudo pra mim
tudo por mim
tudo sou eu
tudo quero eu


(Eu juro, tentei não me expor desse modo, mas o desejo falou mais alto. E como mulher é um tanto mais sentimento que razão, permiti que a vontade usasse seu feitiço. Versos antigos e guardados com cuidado na caixinha de papéis, ainda não estão vencidos, ainda são testemunhas dos fatos.)