Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha esse coração
que nem se mostra.
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Mulher ao espelho
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz,
já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
Que mal fez, essa cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se é tudo tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira,
a moda, que vai me matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.
Um comentário:
Aproveitando a poesia, falo de poesia. "E gerencia contribuições de 3ºs também. Porque a poesia é uma coisa só. E não é de ninguém." Né? Versos teus, quero-os.
A cada 4 postagens no guinaluar, outras 4 serão de convidados. Fostes a 1ª pessoa em que pensei quando tive de escolher as primeiras 4. Topas a parceria?
Quero que o guina seja assim um lugar em que se dá "poesia entre amigos". Acho que não há expressão ou melhor.
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