08 julho 2009

último post


Eu não consigo ter raiva de você, mas tudo que sei é que preciso me afastar de você. Você é o meu lado mau criado, você é o meu lado irracional que faz tudo que deseja sem cogitar o sofrimento que virá (depois do deitar e, principalmente, depois do acordar).

02 maio 2009

aquém antônimo de além


O que não se escreve se esquece, não vira documento, ninguém sabe ninguém espreita. Tantos papéis rabiscados, tantas citações e palavras e idéias avulsas, que não sei mais o que a mim pertence e o que é de outrem. Tudo parece tão homogêneo e de ninguém. Letras envolventes, porém tão dissimuladas, omissas, envaidecidas. De minha parte, só imprecisão das idéias. Meandros. Expressões antes tão precisas, agora tão incômodas. Declarações vãs. Vicissitudes.

05 abril 2009

a poética da loucura


Porque por seu amor vale tudo. Porque te encontrar foi o melhor presente que já ganhei dos céus. Porque eu quero te ver todos os dias e te ouvir cantar todos os dias. Porque você foi a única pessoa que nunca, em momento algum, desacreditou de mim. Porque você sempre foi (meu) único, melhor, verdadeiro amigo. Porque você sempre me disse pra eu ser forte. Porque eu jamais senti tanta ternura a ponto de me entregar assim. Porque você é o "amor da minha vida, daqui até a eternidade e os nossos destinos foram traçados na maternidade". Porque "por você eu largo tudo, carreira, dinheiro e canudo", como diz Cazuza. Porque essa foi a primeira música que nos uniu quando você me emprestou o disco. Porque você completa a frase que eu penso em dizer. Porque eu me vejo em você. Porque você me faz acreditar di-a-ria-men-te, que o verdadeiro amor entre um homem e uma mulher simplesmente existe. Porque você me faz feliz como nunca antes. Porque a sua voz soa dentro de mim. Porque você me acalenta. Porque você é a calmaria dos meus dias. Porque você é a energia das minhas noites. Porque conviver contigo é ainda mais gostoso do que ser apenas amigos. Porque você é o meu porto seguro. Porque eu ainda não sou quem eu quero ser e só você permite que eu seja quem eu quiser. Porque "por você eu aceitaria a vida como ela é". Porque o teu humor atina o meu. Porque o teu beijo consegue ser o mais perfeito e é o alimento da minha boca. Porque sinto saudade durante o segundo que não estou com você. Porque sem você "minha alegria é triste". Porque somos a extensão um do outro. Porque temos a mesma marca no queixo. Porque temos a mesma veia saliente na testa. Porque gostamos das mesmas canções. Porque somos do mesmo mês de março. Porque você começa e eu termino os signos do zodíaco. Porque você é fogo e eu sou água. Porque nos entendemos, nos aceitamos, nos permitimos um ao outro. Porque eu não sei mais ser sem você. Porque te amar é muito fácil. Porque eu não sabia que era capaz de amar assim, sequer sabia que existia esse amor aqui dentro, e você descobriu isso bem antes de mim. Porque você sabe sobre mim, melhor do que eu mesma. Porque o seu amor me sustenta. Porque te amar é a única coisa que tenho certeza que quero fazer até o último dia da minha vida.
Porque "o teu amor me cura de uma loucura qualquer".

26 março 2009

a poética do tormento


Por que você entrou na minha vida?
Procuro o motivo,
a saliva,
o olhar,
a piada,
o riso,
a palavra,
a frase,
o gosto.
Procuro esquecer o motivo, a saliva, o olhar, a piada, o riso, a palavra, a frase, o gosto, o sexo.

02 março 2009

a poética do desejo


Antes, o desejo de desvendar, adivinhar os segredos escritos no caderninho, os sentimentos, a escritura alheia.
Enquanto a leitura, a veemência de sugar cada tilintar das palavras na tentativa de ultrajar o coração profano.
E com a posse das palavras, recriar, dar palpites, intrometer-me, reescrever os teus ditos, misturar os tinteiros, cobrir com a minha letra o que já está escrito, refazer, unificar, me apossar do fazedor de textos.

01 março 2009

a poética das palavras


O que nos une são as palavras.

Palavras soltas, palavras endereçadas, palavras cobiçadas, palavras estranhas, palavras vivas, palavras inventadas, palavras meticulosas, palavras melindrosas, palavras enfadonhas, palavras pequenas, palavras bobas, palavras sensitivas, palavras-imagens, palavras-planos, palavras-poemas, palavras musicadas, palavras desejadas, palavras mudas, palavras-plumas, palavras-peixes, palavras prometedoras, palavras desanimadoras, palavras risonhas, palavras inacabadas, palavras condenadas, palavras incertas, palavras vazias, palavras tropeçadas, palavras criticadas, palavras-línguas, palavras avassaladoras, palavras cortantes, palavras entorpecentes, palavras loucas, palavras saudosas, palavras palavras palavras palavras palavras.

Somos um para o outro: palavras. E a força de expressão delas.

O que nos une é o mesmo que nos afasta.

13 fevereiro 2009

Terra, terreno, terraço, terreiro, enterro, enterrar, terror, término

Enquanto meu pai carregava a arma, minha mãe regava o jardim.
Foi assim, doutor. Ele só queria enterrá-la no quintal na intenção de guardá-la. Era de um tio distante. Quis fazer isso cedinho para não chamar a atenção da vizinhança. O momento foi amaldiçoado. Questão de segundos. Eu tinha acabado de saltar da cama, nem tinha dobrado o lençol e estava comendo pão com manteiga e café quentinho quando tudo aconteceu. Eu chamei pelo pai, mas de boca cheia, me engasguei com os farelos. Quer dizer, eu tentei chamar, né? Porque engasgado, na verdade, eu grunhia. Tossi um bocado e enquanto tomava um copo d’água pra desentalar, vi uma pessoa de vestido vermelho que apareceu e sumiu. Para mim foi mesmo uma aparição. Quando chamaram pelo pai na porta da frente:
- Oh Vicente!
Aí, eu vi a sombra do marmanjo. Botei de vez toda a comida pra fora.
Vomitei. Cuspi tudo.
Quando eu reparei bem... pois não é que o Seu Nonato, pai de uns meninos que moram lá na rua de baixo, estava trazendo o Manuel, que vestia um vestido vermelho. Nem sei explicar para o senhor o que eu senti naquela hora, doutor. Meu irmão estava com a cara desfigurada, parecia que tinha levado porrada a noite toda. Ele estava... Tenho até vergonha de dizer, seu delegado, mas é o senhor quem sabe dessas coisas de lei, não é? Pois é, ele tinha era maquiagem no rosto. Senti nojo.
O pior é que esse seu Nonato veio cheio de razão dizer que o Manuel estava botando o "filhinho" dele no meio de gente que não presta. E quem presta nessa vida, doutor? Só sei que os dois começaram um bate-boca interminável. O pai veio saber que gritaria era aquela. Não sei o que deu nele quando viu o Manuel com o rosto todo borrado. Podia se preparar para o pior... Porque se tem uma coisa que o pai não admite, doutor, é ser desonrado, e mais, diante dos outros. Ao ver aquela cena, ele se transformou e esbravejou sua dor. O destino não perduou. O Manuel gritava com a voz rouca pedindo pra ele não fazer nada antes que lhe explicasse tudo. Não adiantou. O olhar de meu pai era de ofendido, envergonhado... Ele insultou. E condenou. Meu pai quis lutar contra a humilhação. Eu quis lutar contra a ira de meu pai. Seu Nonato, quando percebeu o desassossego saiu às pressas. Com as mãos sujas da terra molhada, meu pai pulou em cima do meu irmão e deixou cair a arma.
Ainda pude ver minha mãe tranqüila colhendo rosas no jardim.
No alarido da confusão, enquanto voltava o olhar para os dois e pensava em uma maneira de como agir, meus pensamentos foram interrompidos pelo barulho estrondoso dos tiros.
O pai passou mal.
Perdi os meus sentidos por um instante.
A cor vermelha do vestido misturava-se ao sangue.
Meu pai balbuciou baixinho:
- Manchei o nome de minha família.
Quis ter impedido a zanga de meu pai ou a maldita antes que chegasse
ao chão. Ao cair, o revólver disparou dois tiros certeiros em Manuel. Eu vacilei, doutor, mas não tenho culpa. Eu só obedeci ao pai: “Não se meta, porque tô ensinando o teu irmão a ser macho, até isso eu tenho que ensinar pra ele”.
Não tenho nada a ver com a briga deles não, viu, doutor?!
A minha mãe? A mãe é surda.
Ora, eu estou dizendo para o senhor.
Ela perguntou se o Manuel já tinha chegado. Queria saber se o espetáculo teatral tinha sido aplaudido. Se o personagem de travesti poderia render fama.
Manuel paralisado.
Eu disse para ela trazer as rosas.
Na manhã seguinte um déjà vu. Novamente na hora do café vi o pai enterrando a arma, e Manuel.

18 janeiro 2009

o último dos jangadeiros

4° Festival de Atibaia Internacional do Audiovisual

20 a 25 janeiro 2009 São Paulo

Mostra Competitiva Site do Festival



Direção: Raquel Holanda, Camilla Andrade e Marcelo Andrade

Classificação: Documentário

Duração: 15 min 32 segundos

Formato: Digital

Suporte: Vídeo

Roteiro: Camilla Andrade

Direção de Fotografia: Marcelo Andrade

Direção de Arte: João Augusto Braga, David Moraes e José Valdevino Neto

Som direto: José Valdevino Neto

Montagem/Edição: Marcos Antônio

Trilha Sonora: “É café pequeno” de José Enygdio de Castro e Aluísio de Alencar Pinto

Still: Raquel Holanda e Priscila Gleivy

Design: Caio Castelo

Realização: Universidade de Fortaleza – UNIFOR

Festivais e Prêmios:
18º Cine Ceará Festival Ibero-Americano de Cinema Prêmio de Melhor Mostra Olhar do Ceará (júri popular) Abril 2008
FX – Festival de Vídeo Acadêmico 1ª edição Universidade Autónoma de Lisboa Menção Honrosa Dezembro 2007

Sinopse:
O documentário conta as memórias de um jangadeiro que desafiou condições sociais e políticas da década de 70 do século passado, no Ceará, e decidiu enfrentar o mar tendo uma única causa a ser defendida: a sobrevivência dos pescadores. O Sr. José Eremilson Severiano Silva, presidente da Colônia dos Pescadores na época, relembra a viagem que percorreu o Atlântico. Em uma pequena e precária embarcação (jangada), o pescador saiu do Mucuripe na cidade de Fortaleza e foi até Ilha Bela em São Paulo com a pretensão de reivindicar os direitos dos jangadeiros junto ao Presidente da República, na época o militar Emílio Garrastazu Médici. Uma viagem por mar que durou seis meses. O pescador retira do fundo do baú as melhores lembranças dessa aventura e conta também as dificuldades vividas. Uma história emocionante que retrata uma das principais conquistas dos jangadeiros cearenses: o direito à aposentadoria. A história de vida desse personagem transformou a atividade pesqueira no Estado do Ceará, e, consequentemente, colaborou para historiar fatos significantes para este Estado e para o Brasil.


10 janeiro 2009

possuída

Possuída pelo medo e por incontáveis dúvidas.
Indignações.
Se pudesse fugir de si para não ter que enfrentar as próprias indagações.
Quais as conseqüências quando os atos vão além da imaginação?
Como se o que acontecesse
fosse pintura
desenho borrado
que se tornara uma linda obra com chamativos traços
[vermelhos] de prazer.
Certo dia diferente
que escapa às regras e aos limites e dá espaço para a libertação do desejo de ter posse sobre outro corpo – assim ardente como o seu.
Procura as palavras e o momento contagiante.
Os descontrolados corações [unidos]
trocas de expressões [desfiguradas]
cujos olhares respondem às perguntas que fazem os gestos
o cheiro dos corpos aquecidos
o suor
arrepio frio
coração a bater forte e tremer as mãos
que não se importam se estão pecando
nesse (in)esperado instante
que é seu é meu é nosso
e toda aquela sensibilidade
guardada
escondida
ser deliciosamente tocada.